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“QUEM NÃO DELEGA, NÃO CRESCE” com Juranildes Araújo

Sistema Comércio
12 de abril de 2023
“QUEM NÃO DELEGA, NÃO CRESCE” com Juranildes Araújo

“QUEM NÃO DELEGA, NÃO CRESCE”

ENTREVISTA – JURANILDES ARAÚJO

por Luana Silva

Mulher, empresária, esposa, mãe, avó, primeira mulher a ocupar o cargo de 3ª vice-presidente da Fecomércio-BA e atual coordenadora da Câmara da Mulher Empresária da entidade. Juranildes Araújo é tudo isso e mais. Dona de um olhar aguçado para os negócios, nesta entrevista ela compartilha um pouco da sua história e de como passou de uma menina que fazia bonequinhos para vender no Mercado Modelo, aos oito anos de idade, à dona de empresas de sucesso, palestrante e consultora. Cheia de energia, ela está sempre à procura do próximo projeto. Por isso, lançou o podcast “A Dona do Olhar Aguçado”, no qual entrevista outras empreendedoras. Sua extensa trajetória no mundo dos negócios e do associativismo vai ganhar vida em forma de biografia, em novembro. Até lá, conheça mais sobre sua história.

RF – Conte um pouco da sua trajetória no empreendedorismo.

JA – Eu entrei no mundo dos negócios muito cedo, ainda criança. Na época, não sabia o que era empreender, mas na realidade eu estava empreendendo. Comecei aos oito anos fazendo bonequinhos para vender na feira, aos 10 eu já costurava para mim e para a família toda. Aos 20 anos, fui trabalhar no Polo Petroquímico de Camaçari e enxerguei um nicho bom para mim. Então criei uma confecção em casa para produzir fardas para as empresas do Polo e fiz isso por 20 anos. Passei de um funcionário a 300. Comecei fabricando uma peça por dia e cheguei a produzir 30 mil peças por mês.

RF – E como começou a sua jornada no associativismo?

JA – De lá para cá eu me envolvi no mundo do associativismo, fui a primeira mulher a ser presidente da Associação Comercial e Empresarial de Camaçari, fundei a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Camaçari, fundei o sindicato patronal, depois vim pra Fecomércio-BA. Fui a primeira mulher a exercer o cargo na diretoria executiva e agora estou coordenadora da Câmara da Mulher Empresária da Fecomércio-BA. Como a câmara é consultiva, nós temos um trabalho para fazer de levar o nome da Fecomércio e trazer essas mulheres para o associativismo.

RF – Qual foi o seu maior desafio profissional ou pessoal?

JA – Meu maior desafio foi começar a investir sem dinheiro, com quase zero. Eu comecei com uma máquina de costura caseira e, de repente, me vi fazendo todas as fardas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da Bahia. Empenhei minha casa para conseguir capital para investir, fiz loucuras e quem olhava de fora pensava “coitada, se acabou”. Além disso, tinha muita gente que achava que a mulher não consegue nada. Vivendo cercada por homens, sempre tem uma “discriminaçãozinha”. Então, você tem que pegar o “não” e transformar em um “sim”. Pegar um limão e transformar numa limonada. O desafio é constante.

RF – Que lições você tirou desses desafios?

JA – A lição que eu tirei é que, a cada dia, você tem que estar se especializando no que faz. A inovação chega no silêncio e você tem que perceber que ela está chegando. Para isso você tem que estudar sempre. Se eu estou fazendo associativismo, eu estudo associativismo. Se eu vendo perfume, eu estou estudando sobre. Eu não vivo sem ler um livro ou dois por mês, se eu aproveitar uma página para mim já valeu.

RF – Qual você considera o momento mais marcante da sua carreira?

JA – O momento que estou vivendo agora é marcante para mim pois eu me sinto feliz com meu o trabalho. Mesmo com muita atividade, posso dormir quatro horas por noite e não me sinto cansada. Adoro trabalhar com perfumaria, estudar aromaterapia, eu fiz uma pós nesse assunto. O mundo do Marketing Olfativo me encanta. Eu tenho minhas marcas todas registradas e me sinto muito feliz porque hoje eu estou num contexto novo do mercado.

RF – Como mulher, como você observa essa posição de liderança? O que te inspira para ocupar esse lugar?

JA – A mulher precisa ser ousada para poder estar onde ela quiser. E, para ela poder estar, ela tem que saber o que ela quer, o que ela pode fazer. Eu vim para esse mundo empresarial com o intuito de devolver para a sociedade tudo o que eu aprendi, na academia e dentro das minhas empresas. O que me inspira é que eu acredito que as mulheres têm que lutar por esse lugar e alguém precisa começar. Então, no meio de várias que começaram, eu sou uma delas e quero puxar mais mulheres para esse contexto. A mulher tem que estar na política, tem que ser deputada, prefeita, vereadora, superintendente de empresa, tem que ser tudo o que ela quiser. A gente tem que lutar por isso e a gente tem que querer. No momento que uma mulher ocupa um cargo de liderança, outra olha e começa a entender que também pode.

RF – Qual característica sua você acha que foi essencial para você estar hoje no lugar que ocupa?

JA – Ousadia. Persistência. Resiliência. Eu não uso na minha vida a palavra medo, eu uso cuidado. E humanização. Em tudo o que você faz, em todo lugar que você está, tem que ter humanização. O meu crescimento vem também a partir do momento que eu começo a ensinar outras pessoas a fazerem o que eu sei fazer. Quem não delega, não cresce. Você precisa aprender a delegar em qualquer lugar, não só na sua empresa, mas na instituição que você dirige. Esse olhar é a virada de chave.

RF – Qual legado você pretende deixar como coordenadora da CME?

JA – Pretendo levar para as mulheres a mensagem de que elas não precisam ser CLT, mas que elas podem montar seu próprio negócio, ganhar seu dinheiro e dizer, com orgulho, “eu tenho o meu, eu sou dona do meu nariz, sou dona da minha empresa. Eu não vou bater ponto para ninguém. Eu vou querer que pessoas venham bater ponto para mim” e que ela também prepare essas pessoas para que no futuro elas possam estar no meu lugar.

RF – Hoje, o que te dá mais orgulho?

JA – Minha família, minha filha, o orgulho da independência, do empoderamento. Tenho orgulho do meu marido, que me acompanha com os olhos brilhando em todas as loucuras que eu faço, há 48 anos. Ver minhas filhas serem parecidas comigo, dizerem “eu vou ser igual a minha mãe”. Uma das coisas que mais me dá orgulho é transformar a vida de mulheres.  Quando elas chegam para mim e dizem “você me motivou. Eu estava lá ‘embaixo’, agora eu estou com um negócio” isso me deixa extremamente feliz.