PEIC | MARÇO 2024
INADIMPLÊNCIA VOLTA A SUBIR EM SALVADOR APÓS 16 MESES.
Inflação mais alta em alimentos deve ser o principal desafio no equilíbrio das contas.
Em março, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio-BA, constatou aumento da inadimplência das famílias, interrompendo uma sequência de 16 meses em declínio. O avanço de março elevou o percentual de famílias com contas em atraso para 23,8%. O cenário atual, no entanto, ainda é mais favorável do que o registrado um ano atrás, quando 38,1% das famílias enfrentavam atrasos em suas contas.
Esse aumento recente da inadimplência esteve mais concentrado entre as famílias de menor poder aquisitivo, possivelmente como reflexo direto do retorno recente das pressões inflacionárias sobre itens básicos de consumo, como alimentação e transporte, que impactam de maneira mais intensa esta parcela da população.
Ainda em março, também foi observado crescimento no percentual de famílias que indicaram não ter condições de pagar dívidas atrasadas, aumento de 9,7% para 10,4% no último mês. Esse dado acende um alerta sobre a situação da inadimplência na capital baiana em um contexto de possível retorno das pressões inflacionárias. Quando comparado ao ano anterior, porém, a situação atual também demonstra melhoria com relação aos 17,5% de lares que se encontravam nesta situação mais crítica de inadimplência.
Já a parcela de famílias participantes do mercado de crédito, denominadas endividadas, avançou no último mês, passando para 63,6% dos lares soteropolitanos. O nível de endividamento atual é menor que o observado há um ano, quando aproximadamente 69,8% das famílias tinham algum tipo de dívida ativa.
O uso do cartão de crédito pelas famílias alcançou 92,8% em março, aproximando das máximas históricas da pesquisa. Também foi observado no último mês uma manutenção da utilização de cheque especial e crédito pessoal, além do avanço na demanda por crédito consignado. A contratação dessas modalidades pode estar associada à necessidade de crédito para consumo imediato em momentos de aperto financeiro, no entanto, a demanda por tais modalidades ainda é inferior ao nível observado há um ano.
A parcela da renda comprometida com dívidas segue em patamar historicamente elevado, apresentando aumento no intervalo de um ano, de 30,3% da renda das famílias em março de 2023 para atuais 31,4%. No último mês, foi observada uma queda no grupo de famílias com menos de 50% da renda comprometida com dívidas e aumento daquelas com mais da metade da renda destinada a mesma finalidade.
E o período médio de comprometimento da renda com dívidas permaneceu inalterado em 6,7 meses de fevereiro para março de 2024. Há um ano, o tempo médio era de 7,1 meses, bem próximo ao atual. Foi notada uma convergência do percentual de famílias com comprometimento financeiro entre 3 e 6 meses, ao mesmo tempo reduziram tanto no número de lares com dívidas menores que 3 meses quanto naqueles com dívidas superiores a um ano.
A interrupção de um longo período de declínio nos níveis de inadimplência marca um momento de alerta para as famílias de Salvador, especialmente as mais vulneráveis à inflação. Apesar do recente revés, o quadro atual mostra um cenário mais positivo, mas ainda desafiador diante de um novo contexto econômico mais instável.
Será necessário acompanhar os próximos dados para captar se haverá uma reversão de curva da inadimplência ou se a taxa está encontrando um patamar de equilíbrio. De qualquer forma, é importante ficar atento ao aumento de preços nos principais itens de consumo das famílias, pois se seguir pressionado até o meio do ano, certamente influenciará – negativamente – na inadimplência e nas vendas do comércio.