VAREJO BAIANO | DÓLAR EM ALTA
DÓLAR EM NOVO PATAMAR PREOCUPA ECONOMIA BRASILEIRA PARA 2025, AVALIA FECOMÉRCIO BA
A cotação do dólar ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca de seis reais nos últimos dias. A tendência ao longo de 2024 já apontava para uma desvalorização da moeda brasileira, mas a recente disparada gerou preocupação quanto às possíveis consequências para a economia no próximo ano.
É fato que o dólar mais alto resulta de dois fatores: um externo e outro interno. A Fecomércio BA, inclusive, já elaborou artigos detalhados sobre o assunto. No cenário internacional, a valorização da moeda americana é impulsionada por uma série de fatores, como as tensões decorrentes de conflitos globais, a manutenção das taxas de juros em patamares elevados e a eleição de Donald Trump, que deve estimular a economia dos Estados Unidos – com o protecionismo -.
Entretanto, entre os países emergentes, o real foi a moeda que mais se desvalorizou, o que exige uma análise do componente doméstico. Apesar de a economia estar em forte expansão, com crescimento superior a 3%, há uma série de riscos que geram desconfiança nos investidores. O principal deles é a questão do equilíbrio fiscal, que tem recebido respostas insatisfatórias por parte do governo.
Assim, o dólar, que começou o ano cotado a R$ 4,89, está agora oscilando em torno de R$ 6,10. Até o final de novembro, a cotação girava em torno de R$ 5,80, o que representa uma desvalorização de 5% em um curto período. Caso o dólar permaneça nesse patamar mais elevado, as consequências para a economia brasileira poderão ser severas, especialmente no que diz respeito à inflação.
A importação de produtos torna-se mais cara, desde os itens adquiridos até os custos de frete. Grande parte do trigo consumido no Brasil, por exemplo, é importada da Argentina. Mesmo produtos agrícolas plantados no país, como soja e milho, são commodities negociadas no mercado internacional em dólar, o que acaba pressionando os preços. Infelizmente, o consumidor deve sentir os reflexos desse aumento nos supermercados.
Um ponto adicional é que a alta do dólar pode tornar mais vantajosa a exportação de produtos brasileiros, como a carne. Esse incentivo à competitividade externa pode elevar as exportações, ao mesmo tempo em que reduz a oferta interna, gerando pressão sobre os preços no mercado doméstico.
No setor de serviços, as companhias aéreas enfrentam um impacto significativo, já que cerca de 60% de seus custos estão atrelados à moeda americana. Isso deve refletir em passagens mais caras nos próximos meses. A indústria também sofre com o encarecimento de peças e equipamentos importados.
O Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (COPOM), iniciou recentemente um novo ciclo de aumento de juros para conter a inflação, que, em 12 meses, já ultrapassou os 4,50% – o teto máximo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com o dólar mais caro pressionando ainda mais a inflação, o Banco Central pode ser forçado a intensificar os aumentos da taxa Selic ou mantê-la em um patamar elevado por mais tempo.
Esse cenário implica crédito mais caro e um ritmo de crescimento econômico mais lento, o que prejudica a geração de empregos e a renda da população. Embora as soluções sejam evidentes, questões políticas têm dificultado a implementação de medidas adequadas, perpetuando os problemas estruturais da economia, principalmente o aumento significativo da dívida pública em relação ao PIB.
Portanto, a cotação do dólar na casa dos seis reais é um alerta para o estado febril da economia brasileira. Essa situação deve gerar consequências, diretas e indiretas, para a população, além de comprometer o desempenho do país no próximo ano.