PEIC | AGOSTO 2025
Endividamento em Salvador atinge 71,3% das famílias, o maior patamar em quase 4 anos, avalia Fecomércio BA.
Contas em atraso também subiram em agosto e inadimplência chega a 24,5% dos lares soteropolitanos.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio BA, aponta mais um aumento no número de famílias com algum tipo de dívida na capital baiana: de 69,7% no mês anterior para 71,3% em agosto, o maior patamar em quase quatro anos. Em números absolutos, são 671,3 mil famílias com compromissos a serem quitados, um acréscimo de pouco mais de 15 mil em relação a julho.
O aumento ocorreu em ambas as faixas analisadas pela pesquisa: de 72,4% para 73,9% entre as famílias com renda de até 10 salários-mínimos, e de 41,2% para 43,5% no grupo de renda mais elevada. Apesar da mesma tendência, as magnitudes são bastante distintas, reforçando a necessidade das famílias de renda mais baixa de buscar crédito para complementar a renda e manter o consumo.
Entre os principais tipos de dívida, o cartão de crédito segue na liderança, atingindo 91,9% dos endividados, seguido pelo crédito consignado (6,3%) e pelos carnês (6,1%). Entre esses, chama a atenção a modalidade consignada, que alcança o maior percentual desde novembro de 2022. Por um lado, esse aumento é positivo, pois o mercado de trabalho aquecido permite que as famílias contratem esse tipo de crédito em condições mais vantajosas. Por outro, é um indicativo das dificuldades para equilibrar o orçamento, já que se trata de um crédito de curto e médio prazo, pouco voltado ao consumo.
Embora tenha um perfil mais imediato, o pagamento do consignado é normalmente parcelado e com prazo mais alongado, o que contribuiu para a elevação do prazo médio de comprometimento da dívida: de 6,4 para 6,5 meses, entre julho e agosto.
Outro ponto de atenção é a parcela da renda comprometida com dívidas, que subiu de 29,7% para 30,3%. Ainda que esteja em um patamar considerado saudável, esse indicador vem se deteriorando nos últimos meses, sinalizando uma necessidade crescente de recorrer ao crédito para compor a renda familiar.
O aumento do endividamento também trouxe elevação na inadimplência. Em agosto, 24,5% dos lares de Salvador tinham alguma conta em atraso, acima dos 23,8% do mês anterior, mas sem grande variação em relação ao observado desde abril. Atualmente, são 230,6 mil famílias nessa situação, com maior impacto sobre aquelas de renda mais baixa (26,5% de inadimplência) em comparação às que ganham acima de 10 salários-mínimos (7,6%).
O perfil do atraso também piorou, com a média passando de 64,7 para 66 dias nos últimos dois meses, principalmente em dívidas vencidas há mais de 90 dias. Já o percentual de famílias que declararam não ter condições de quitar a dívida em atraso chegou a 10,8% em agosto, ante 9,6% no mês anterior.
Na avaliação da Fecomércio BA, o aumento do endividamento é um sinal de alerta para a deterioração da renda das famílias, que precisam recorrer cada vez mais ao crédito para consumir e honrar compromissos. O mercado de trabalho aquecido tem sustentado essa tendência, mas parte das famílias já enfrenta dificuldades para fechar as contas. O cenário pode se agravar caso haja desaceleração econômica, com impactos na geração de empregos e no ganho real de salários.
Ainda que não se trate de uma situação fora de controle, a deterioração já está em curso e era, em certa medida, prevista, como consequência do cenário de juros elevados.



