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Em 10 anos, 2 a cada 10 empresas sobreviveram na Bahia

Área do Conhecimento
28 de outubro de 2022

EM 10 ANOS, 2 A CADA 10 EMPRESAS SOBREVIVERAM NA BAHIA.

Dado é reflexo da falta de organização financeira das empresas e da instabilidade econômica do país.

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, divulgou nesta quarta-feira informações sobre a taxa de sobrevivência das empresas num período de 10 anos e que, segundo interpretação da Fecomércio-BA, sinaliza para problemas da instabilidade econômica do país e da falta de planejamento nos negócios.

Na Bahia, em específico, nasceram 40,8 mil empresas em 2010, segundo o levantamento. Já no primeiro ano de acompanhamento, houve uma perda de 27% delas, e no terceiro ano (2013), somente a metade ainda estava atuando. Neste último dado divulgado, de 2020, o percentual de sobrevivência foi de 18,3% no estado, ou seja, uma redução de praticamente 82% daquelas empresas monitoradas no início da década passada.

Embora a tendência seja muito similar em todo o país, as regiões sul, sudeste e centro-oeste mostram uma resiliência um pouco maior. Na região nordeste, a Bahia foi o estado que mais empresas “morreram” nos primeiros anos, e se mantendo na lista de baixo quando completados os 10 anos. A taxa de sobrevivência de 18,3% em 2020 só fica acima do Ceará (18,2%) e do Maranhão (17,7%).

Além disso, outro dado preocupante do CEMPRE, que é o cadastro das empresas do IBGE, base para esse levantamento do IBGE, em 10 anos houve uma redução de 104 mil para 76,4 mil empresas do comércio varejista na Bahia, sendo de forma quase generalizada entre os setores analisados, exceto o comércio de combustíveis para veículos.

Esses números apresentados confirmam as publicações recentes do SEBRAE. Segundo levantamento feito com dados da Receita Federal, em 2020, os Microempreendedores Individuais (MEI’s), por exemplo, possuíram taxa de mortalidade de 29% nos primeiros cinco anos. Em relação ao setor, o mais prejudicado é o comércio, com taxa de 30,2% para esse mesmo período.

O primeiro ponto que justifica a mortalidade das empresas em poucos anos de atividade é a falta de planejamento do negócio. Muitos empreendedores acreditam que somente montar a loja e entender do tipo produto a ser vendido são medidas suficientes para o sucesso nas vendas. Não é verdade. Todo e qualquer negócio é imprescindível haver um plano de trabalho, determinando o público-alvo, perfil econômico da região do estabelecimento, precificação, custos operacionais, possibilidades de contração e pagamento de crédito, entre outras variáveis.

Por isso, em grande parte das empresas, já no início, o faturamento não aparece conforme o esperado e, à medida que há necessidade de pagar contas, funcionários e demais custos operacionais, opta-se por contrair crédito e, consequentemente, sem a devida receita, torna um compromisso com dificuldade de ser quitado.

Ou até mesmo as vendas atendem às expectativas, mas a permanência na zona de conforto leva a uma queda de produtividade ao passar dos anos que se não ficar atento, leva a crise financeira do negócio.

Outro ponto a se destacar é a alta rotatividade de empregados no comércio, dificultando criar uma essência da empresa. Assim, é fundamental o acompanhamento diário in loco do dono, para entender os equívocos cometidos pela equipe, além das necessidades dos clientes. Somente com a barriga no balcão é possível corrigir erros de forma imediata para potencializar a produtividade do negócio. É sabido, no entanto, que a média mensal no comércio é de 1,2 salário-mínimo, metade da média geral da economia baiana. Vale lembrar que é o menor valor desde 2006, série mais recente do IBGE. Portanto, a tendência é o aumento da rotatividade dada o baixo retorno financeiro ao trabalhador.

Numa outra ótica, para explicar a mortalidade das empresas, está a instabilidade econômica do país. Nos últimos 10 anos, o Brasil passou por duas grandes crises, a do biênio de 2015-16 e agora, em 2020, com a pandemia. Além disso, a taxa de juros, nesse período, chegou a 14,25% ao ano e a inflação superou os 10% em um ano.

Todo esse cenário adverso dificulta o planejamento das empresas, pois impactam diretamente na capacidade de consumo das famílias, ou seja, na obtenção de crédito e na diminuição da renda. O ideal seria que a economia pudesse ter uma inflação equilibrada e juros mais baixos. Infelizmente, isso não acontece no Brasil no seu histórico recente, dos últimos 20, 30 anos.

Portanto, a redução no nível de sobrevivência das empresas acontece em todo o país, porém na Bahia a situação é relativamente pior. A tendência é que não muda tanto do último dado até agora, pois, nesse meio tempo, os juros voltaram para quase 14% ao ano e a inflação ultrapassou novamente os 10%. Tudo isso atrapalha o dia a dia das empresas que, sem planejamento, inclusive para momento de incertezas, levam a mais fechamentos.