ICF | ABRIL 2025
INFLAÇÃO E CRÉDITO CARO FAZEM CONFIANÇA DO CONSUMIDOR CAIR PELO 2º MÊS SEGUIDO, APONTA FECOMÉRCIO BA
Consumidores demonstram mais cautela em ampliar os gastos nos próximos meses.
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), elaborado mensalmente pela Fecomércio BA, registrou a segunda queda consecutiva: -2,1% em março e, agora, -2,5% em abril, na comparação com o mês anterior. Com isso, o indicador retorna aos 108,3 pontos, mesmo nível observado em setembro do ano passado. Na comparação anual, o resultado é praticamente estável, com um leve aumento de 0,3%.
O ICF varia de 0 a 200 pontos, sendo que valores mais próximos de 200 indicam otimismo, enquanto os mais próximos de 0 representam pessimismo.
Dos sete itens analisados pela pesquisa, apenas o item Perspectiva Profissional registrou aumento no mês, com alta de 2,2%, alcançando 135,1 pontos — o maior nível entre os componentes do ICF. Não muito distante está o item emprego atual, que em abril ficou em 132,9 pontos, levemente abaixo do observado no mês anterior (133,5 pontos).
Percebe-se, por esses números, que o emprego não é o principal problema. A Fecomércio BA vem observando que o mercado de trabalho permanece aquecido, com a taxa de desemprego na região no menor patamar dos últimos 10 anos, o que tem trazido confiança, segurança e uma visão mais otimista para o futuro próximo. Esse cenário, inclusive, tem contribuído para o fortalecimento da renda, impulsionado pelo ganho real observado desde o ano passado.
Entretanto, um ponto crucial vem minando o orçamento das famílias e a confiança: a inflação elevada. O problema não é apenas o aumento dos preços, principalmente no grupo de alimentos, mas a sua persistência ao longo de um período prolongado — há mais de seis meses — o que tem corroído gradualmente o poder de compra das famílias.
Prova disso é que um dos destaques negativos do mês foi o item nível de consumo atual, que registrou retração de 6,7%, retornando aos 90,2 pontos — um patamar pessimista. Cerca de 43% dos entrevistados afirmaram estar comprando menos do que há um ano, três pontos percentuais a mais em relação ao mês anterior. E o cenário para os próximos meses não é muito diferente: o item perspectiva de consumo teve queda de 3,4%, passando de 120,8 pontos em março para 116,7 pontos em abril.
O item renda atual recuou 1,9% no mês, atingindo 121,9 pontos. Embora ainda se mantenha em um patamar otimista, cresce gradativamente o percentual de famílias que relatam uma piora no nível de renda em comparação com o mesmo período do ano passado.
Outro ponto que se destaca na pesquisa é a queda nos itens relacionados ao crédito. O item acesso ao crédito retraiu 2,9% no mês, enquanto o item momento para duráveis caiu 8,1%. Essa tendência é claramente influenciada pelo encarecimento do crédito, em função do aumento dos juros ao consumidor. Assim, além da inflação elevada, o crédito caro tem limitado a intenção de compra de bens duráveis, como geladeira, fogão, televisor, entre outros.
Na análise por faixa de renda, a queda mais acentuada ocorreu exatamente entre os grupos de menor renda, que sentem de forma mais intensa os efeitos da inflação. O recuo foi de 2,6%, contra 1,3% entre os consumidores com renda superior a 10 salários-mínimos. O ICF foi de 105,1 pontos para a primeira faixa e de 142,4 pontos para a segunda.
Portanto, a inflação elevada e o crédito mais caro aumentam a pressão sobre o orçamento doméstico e abalam a confiança, sobretudo entre as faixas de menor renda, mesmo em um cenário favorável de emprego. Com essa segunda queda consecutiva, começa a se desenhar uma tendência de recuo do ICF, aproximando-se de um patamar mais baixo — o que pode comprometer o desempenho do comércio no segundo semestre. Esse cenário não é muito diferente do que a Fecomércio BA já vem alertando desde o final do ano passado.