ICF | MAIO 2025
INTENÇÃO DE CONSUMO DAS FAMÍLIAS DE SALVADOR RECUA AO MENOR NÍVEL DESDE AGOSTO DO ANO PASSADO, APONTA FECOMÉRCIO BA
Alta da inflação e dos juros segue deteriorando as condições econômica dos lares soteropolitanos.
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), elaborado mensalmente pela Fecomércio-BA, voltou a cair em maio, passando de 108,3 pontos em abril para os atuais 107,5 pontos — uma queda de 0,7%, atingindo o menor patamar desde agosto do ano passado. Também houve retração na comparação anual, de 2,7%, já que em maio de 2024 o indicador estava em 110,5 pontos.
O ICF varia de 0 a 200 pontos: valores mais próximos de 200 indicam otimismo, enquanto os mais próximos de 0 refletem pessimismo.
As maiores variações negativas foram observadas nos itens relacionados ao consumo. O nível de consumo atual recuou 2,2% em maio, atingindo 88,2 pontos — patamar não registrado desde outubro de 2023. Já a perspectiva de consumo apresentou queda mensal de 1,7% e retração anual de 6,5%, chegando a 114,7 pontos.
A taxa de juros elevada é um dos fatores que têm impactado o consumo. O item acesso ao crédito registrou retração mensal de 1,3%, ampliando o pessimismo ao atingir 97,5 pontos. Cerca de 42,8% das famílias afirmam estar mais difícil obter financiamento para compras a prazo. Há dois aspectos nessa questão: primeiro, a maior seletividade do sistema financeiro, que percebe risco elevado de inadimplência; segundo, as próprias famílias enfrentam dificuldades financeiras para comprometer sua renda com crédito.
A inflação mais alta também tem sido um desafio para as famílias, afetando diretamente o poder de compra. O item renda atual sofreu redução mensal de 0,5%, recuando para 121,3 pontos, refletindo a percepção crescente de que a renda familiar está menor do que há um ano.
Apesar de o mercado de trabalho ainda apresentar aquecimento, com uma das menores taxas de desemprego da série histórica, o impacto da inflação e dos juros elevados já começa a afetar a confiança no emprego. Isso se reflete no item emprego atual, que recuou 0,8% em maio. Ainda não é um sinal alarmante, mas aponta uma preocupação crescente nas famílias em manter o vínculo de trabalho para enfrentar o atual cenário econômico adverso.
Por outro lado, o item perspectiva profissional teve um leve aumento de 0,6%, o que pode representar um sinal positivo para o longo prazo. Indica que parte da população enxerga possibilidades de melhoria em meio a este momento delicado.
Já o item momento para duráveis, embora tenha registrado leve incremento de 0,7%, permanece em um patamar elevado de pessimismo, ao marcar 63,2 pontos. Quase dois terços dos entrevistados acreditam que este não é um bom momento para a compra de bens duráveis como televisores, fogões e geladeiras.
A redução do ICF tem se mostrado homogênea, atingindo todas as faixas de renda analisadas pela pesquisa. Para o grupo com renda inferior a 10 salários mínimos, o índice ficou em 104,5 pontos em maio, recuo de 0,6%. Já entre as famílias com renda superior a 10 salários mínimos, o ICF caiu 1,9%, chegando a 139,6 pontos.
Portanto, a inflação elevada e persistente — especialmente nos preços dos alimentos — aliada à alta dos juros, tem deteriorado gradualmente as condições econômicas das famílias de Salvador. Esse cenário, somado a outros levantamentos da Fecomércio-BA, acende um sinal de alerta para o desempenho do comércio no curto e médio prazos. Em outras palavras, não se trata de um movimento pontual, mas de uma virada de cenário para o negativo — algo que já era previsto, em algum momento, pela Entidade.