ICF | MARÇO 2023
MELHORA NO EMPREGO E RENDA DEVE IMPULSIONAR CONSUMO NOS PRÓXIMOS MESES, APONTA FECOMÉRCIO-BA
Inadimplência alta impede que haja consumo maior no atual momento.
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), elaborado mensalmente pela Fecomércio-BA e CNC, avançou pelo 4º mês consecutivo e atinge, em março, 102,7 pontos, alta de 1,2% em relação a fevereiro e 23,4% de aumento no contraponto anual.
O ICF varia de 0 a 200 pontos, sendo que entre 100 e 200 pontos é considerado o patamar de satisfação ou otimismo. E entre 0 e 100 pontos considerado nível de insatisfação com as condições econômicas do domicílio.
Todos os sete itens analisados pela pesquisa apontaram crescimento em março. O destaque foi o Momento para Duráveis que subiu 6,6%. Porém, é o item com pior avaliação do ICF, com 48,1 pontos. Atualmente, são 72% das famílias que dizem ser um mau momento para compra de bens como geladeira, fogão, televisor etc.
“São duas as explicações para essa avaliação negativa, embora situação esteja melhorando aos poucos. O primeiro é que os juros altos dificultam a compra desses bens, pois necessitam, em grande parte, de financiamento. Além disso, a inadimplência elevada dificulta um planejamento de longo prazo pelo consumidor, ou seja, há uma dificuldade de comprometer a renda com novas dívidas”, explica o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.
A segunda maior variação do mês foi do item Perspectiva Profissional, de 2,4%, ao passar de 135,2 pontos em fevereiro para os atuais 138,5 pontos. O mercado de trabalho aquecido contribuiu para a avaliação de que haverá no curto e médio prazo mais oportunidades de emprego para o responsável pelo domicílio.
E as famílias também estão mais seguras em relação ao Emprego Atual. Esse item teve leve avanço de 0,3% e se posiciona nos 122,4 pontos.
E com um contingente maior de pessoas trabalhando, há um ganho de massa de rendimentos, ou seja, mais renda para as famílias. O item Renda Atual confirma essa tendência com o aumento mensal de 0,2%, ficando nos 111,5 pontos. Cerca de um terço das famílias dizem que estão com o nível de renda maior do que um ano atrás. A inflação mais moderada também contribui para essa avaliação.
“As variáveis ‘emprego e renda’ são fundamentais para que os consumidores possam ampliar a sua capacidade de consumo. No entanto, esse ganho de renda está sendo absorvido no primeiro momento para pagamento de contas em atraso, para depois destinar ao consumo”, explica o economista.
Isso pode ser confirmado pelos dois itens: Nível de Consumo Atual e Perspectiva de Consumo. Enquanto o primeiro avança 0,6% e chega aos 77,9 pontos, o segundo sobe 0,5%, porém com uma pontuação muito mais alta, de 127 pontos.
É uma ótima notícia para o comércio. Em alguns meses, com o nível da inadimplência mais baixo, haverá um ímpeto maior para os gastos além dos setores básicos de consumo.
Por fim, o item Acesso a Crédito que cresceu 0,5% e ficou nos 93,5 pontos. Apesar do crédito abundante, os juros altos dificultam a decisão de compra pelo consumidor daqueles produtos mais caros, que precisam de algum tipo de financiamento.
Na avaliação por faixa de renda, a maior elevação e pontuação ficou com o grupo de famílias que ganha acima de 10 salários-mínimos, com alta de 2% e nível de 134,2 pontos. Para o outro grupo, de até 10 SM, houve elevação de 1,1% e quase atinge o patamar de satisfação e otimismo, com 99,7 pontos.
A recuperação das condições econômicas das famílias de renda mais baixa é mais difícil por conta do processo inflacionário, principalmente do grupo de alimentos que possui um peso maior no orçamento das famílias de menor renda.
O contexto é positivo. Há uma recuperação gradual da renda e do emprego, dando condições para o aumento do otimismo. No entanto, a inflação alta e juros elevados são os grandes desafios para que haja um avanço mais significativo do ICF. De qualquer forma, a sinalização de que os consumidores devem gastar mais no próximo mês é um indicativo fundamental para melhorar as projeções de vendas do comércio.