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PEIC 2022 | JULHO

PEIC
24 de outubro de 2022

4 A CADA 10 FAMÍLIAS EM SALVADOR ESTÃO COM CONTAS EM ATRASO, MAIOR NÍVEL EM 11 ANOS, APONTA FECOMÉRCIO-BA

Sexta alta consecutiva da inadimplência. Por outro lado, o endividamento cai em julho.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Fecomércio-BA, o percentual de famílias com contas em atraso em Salvador, no mês de julho, foi de 40,4% ante os 38,2% de junho, ou seja, 4 a cada 10 famílias. Além de ter sido a sexta alta consecutiva, o atual patamar é o mais elevado em 11 anos.

E na comparação com o ano passado, houve aumento de 12,6 pontos percentuais ou, em termos absolutos, 118,3 mil famílias que passaram a ficar inadimplentes para um total atual de 377,3 mil que precisam quitar o compromisso atrasado.

Nenhuma surpresa nesse resultado. A Fecomércio-BA tem alertado que os preços altos e o custo caro do crédito têm atrapalhado as finanças domésticas. Além disso, embora haja a retomada do emprego, os novos postos de trabalho, em médio, estão sendo com salários mais baixos, o que não tem sido suficiente para contrapor a inflação.

E esse cenário traz preocupação para a economia local, pois as famílias ficam limitadas a aumentar os gastos nos comércios e serviços. Ou seja, para uma retomada mais forte da atividade econômica, as famílias precisam dar um passo atrás, pagar as dívidas em atraso, para depois conseguirem expandir o consumo de forma mais segura.

O endividamento, por outro lado, apontou recuo em julho, ao passar de 67,1% em junho para os atuais 65,2%. Um ano antes, o percentual era ainda mais alto, de 68,2%. São, atualmente, 608,7 mil famílias em Salvador que possuem algum tipo de dívida e não necessariamente com atraso.

E das principais dívida, o destaque, como sempre, é o cartão de crédito com 87,6% dos endividados. Depois vem o crédito consignado com 8,1%, seguido de crédito pessoal, com 6,8%, percentual próximo dos 6,2% dos carnês.

É interessante pegar os dados do ano passado para captar o que está acontecendo neste momento. Tirando da análise o cartão de crédito, que sempre está no topo da lista, os carnês eram destaques em julho de 2021 e agora ficam na quarta posição. Ao mesmo tempo em que o crédito consignado sai de 5,5% para 8,1% no período.

Com o aumento de juros, os carnês perderam a atratividade dos consumidores. No caso do consignado, usa-se dessa modalidade, além do consumo, para pagamento de despesas do dia a dia, sendo a grande dificuldade no momento. Embora, o cenário indique que o crédito está sendo contraído para necessidades básicas, o consignado é a melhor opção por ter a menor taxa de juros, dada a garantia do rendimento mensal.

Outro ponto negativo na pesquisa é o tempo de pagamento em atraso, com média de 65 dias, maior período desde janeiro do ano passado. Isso é um problema, pois quanto mais tempo sem quitar, mais juros são cobrados e, evidentemente, a taxa de juros do país está em ascensão. Desta forma, paga-se mais ao sistema financeiro e sobra menos para o consumo. Por isso, a importância de quitar o compromisso atraso o mais rápido possível através de planejamento e qualquer renda extra.

E na análise por faixa de renda, a situação é mais crítica para quem ganha menos. O endividamento do grupo de famílias com renda até 10 salários-mínimos foi de 66,9%, redução em relação aos 69,2% do mês anterior. No entanto, a inadimplência atingiu 42,4% das famílias, 12,2 pontos percentuais acima do visto no ano passado (30,2%).

Para a outra faixa de renda, acima dos 10 salários, ambas as taxas cresceram no mês. O endividamento passou de 45% para 47,3% e a inadimplência saiu de 18,9% para os atuais 21,9%, mais do que o dobro em relação a julho de 2021 (8,8%). Assim, fica claro que a crise tem efeitos para todas as classes sociais.

A PEIC de julho traz uma realidade muito dura para as famílias de Salvador e difícil de ser resolvida, de forma significativa, no curto prazo. Pelo menos uma das duas variáveis que tem levado ao aumento da inadimplência, a inflação, tem caminhado para o arrefecimento, o que já é muito positivo.

A queda nos preços da gasolina e do etanol é um começo do alívio no bolso do consumidor. A tendência é favorável e deve aumentar o poder de consumo, dando condições para as famílias terem um fôlego a mais para quitar as dívidas em atraso. Além disso, a chegada do auxílio Brasil a partir de agosto pode contribuir para a quitação dos compromissos passado, porém será limitado até o final do ano.

Portanto, a expectativa é de melhora gradual ao longo do segundo semestre, sendo uma perspectiva mais otimista para as vendas no comércio, pois as famílias vão equilibrando aos poucos as contas, abrindo novos espaços para o consumo.