PEIC 2022 | SETEMBRO
TAXA DE FAMÍLIAS COM DÍVIDAS EM ATRASO EM SALVAODR É A MAIOR EM 12 ANOS, APONTA FECOMÉRCIO-BA
Inadimplência sobe pelo 8º mês consecutivo e atinge quase 400 mil famílias na capital baiana.
Em setembro, mais um dado negativo da inadimplência na cidade de Salvador. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio-BA, a taxa de famílias com dívidas em atraso subiu pela oitava vez seguida e atinge 42,1%, maior nível em 12 anos. São quase 400 mil famílias (393,1 mil) que estão com compromissos não pagos até a data do vencimento, o que nesse momento é muito delicado dado o aumento expressivo dos juros. Em um ano, houve aumento de 90 mil famílias nessa situação.
O endividamento também subiu no mês, de 64,8% em agosto para os atuais 65,1%. Atualmente, são 608,3 mil famílias na capital baiana que possuem algum compromisso via crédito. Ao contrário da inadimplência, houve queda na comparação anual, uma redução de 64 mil famílias que não possuem mais dívidas.
A Fecomércio-BA sempre alerta a importante diferença entre endividamento e inadimplência. A primeira variável é quando o consumidor contraí alguma dívida, seja uma compra no cartão, no carnê ou tomou o crédito pessoal. A segunda acontece quando esse crédito tomado não é pago na data estabelecida. É considerado atraso a partir de um dia de não pagamento.
Outro ponto de atenção na pesquisa é o percentual de famílias que já dizem que não terão condições de pagar a dívida em atraso, de 14,6%, maior patamar desde 2012, significando em números absolutos 136,6 mil famílias, muito acima dos 80 mil registrados no mesmo período do ano passado.
A combinação de inflação e juros altos tem sido o principal fator do aumento da inadimplência. Embora o mercado de trabalho tenha reagido ao longo dos últimos meses, o salário médio não tem acompanhado o avanço da inflação. Ou seja, há a dificuldade natural de manter o consumo essencial do dia a dia e fica mais delicado para quem deseja pagar contas atrasadas.
A situação é mais preocupante para as famílias de renda mais baixa. A taxa de inadimplência das famílias que ganham até 10 salários-mínimos é de 44,3%, o dobro da constatada pela pesquisa para o grupo que ganha acima dessa quantia (21,8%).
Também há uma grande discrepância quando analisados os dados de endividamento. Cerca de dois terços das famílias com renda até 10 SM possuem dívidas (66,9%), enquanto para a faixa superior de renda a taxa em setembro foi de 46,5%, pouco abaixo dos 47,6% do mês anterior.
Entre os endividados totais, o principal tipo de dívida é o cartão de crédito com 84,7%. Vale o destaque que esse percentual, apesar de muito elevado, é o menor desde dezembro de 2017. O que pode explicar essa queda é que os bancos estão restringindo mais o crédito nessa modalidade pelo risco maior do não pagamento. Além disso, as famílias usaram de forma expressiva o cartão nos últimos meses para compensar a inflação, ou seja, chegaram a um certo limite e agora não há espaços para aumentos.
Por outro lado, o crédito pessoal ficou com 10,6% dos endividados, o maior da série histórica para esse tipo de crédito. Esse avanço tem um lado negativo e outro positivo. O negativo é que essa modalidade é usada, normalmente, para pagamentos de contas do dia a dia das famílias, como luz, condomínio, aluguel, etc. Assim, indica que as famílias enxergam menos para o consumo e se atentam mais para as contas básicas do domicílio.
O lado positivo, por sua vez, é que esse tipo de crédito possui uma das menores taxas de juros no mercado e é sempre indicado para quem precisa pagar compromissos básicos e não tem os recursos imediatamente.
Esses números da PEIC explicam, em parte, o desempenho das vendas do comércio no estado. Com o alto percentual de famílias com dívidas em atraso e o crédito mais seleto por conta dos juros elevados, setores não essenciais estão puxando a retração de vendas na média geral.
A chegada do Auxílio Brasil é importante para dar início ao equilíbrio das contas das famílias, sobretudo as de renda mais baixa. A redução nos preços dos combustíveis também contribui no aumento do poder de compra. Contudo, com a inflação dos alimentos ainda sem cair é um fator que tem dificultado a recuperação mais rápida da renda.
E com esse cenário de recorde de inadimplência, é mais comum haver a renegociação de dívida, diretamente pelas empresas ou indiretamente através de instituições como o Serasa. É importante que as pessoas busquem imediatamente formas de renegociar, tentando baixar o máximo as multas e juros para limpar o nome o mais rápido possível.
De maneira geral, os números mostram que as famílias têm um longo caminho pela frente para controlar o orçamento doméstico. Infelizmente não há uma solução rápida a tempo de trazer um resultado promissor para as vendas de final de ano. Da mesma forma como o ano passado, as famílias devem usar grande parte do 13º salário no final do ano para pagar essas dívidas em atraso. Embora não gere muitos ganhos imediatos ao varejo, o setor se beneficia num segundo momento com o maior poder de compra das famílias e de forma mais segura e consistente.