PEIC | SETEMBRO 2025
NÚMERO DE FAMÍLIAS ENDIVIDADAS SOBE AO MAIOR NÍVEL EM 12 ANOS, AVALIA FECOMÉRCIO BA.
Inadimplência vai a 25% das famílias, indicando uma perda de compra com os juros elevado.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio BA, registrou em setembro o sexto aumento consecutivo na taxa de famílias endividadas em Salvador. O percentual chegou a 72,9% dos lares soteropolitanos, acima dos 71,3% de agosto e dos 64,6% do mesmo período do ano passado. Isso representa cerca de 686,5 mil famílias com algum tipo de dívida. Esse patamar é o mais elevado desde julho de 2013, quando a taxa foi de 74%.
O avanço foi puxado por todas as faixas de renda, mas em patamares distintos. Entre as famílias com renda de até 10 salários mínimos, o endividamento alcançou 75,4%. Já no grupo de renda mais elevada, o índice foi de 45,9%. Ambos os percentuais representam alta em relação a agosto e ao mesmo mês de 2022, quando estavam em 67,6% e 32,4%, respectivamente.
Entre os endividados, 93,1% possuem dívidas no cartão de crédito, seguido pelo crédito consignado (6,7%) e pelos carnês (5,3%). A combinação do uso crescente dessas modalidades pode indicar maior necessidade de complementar a renda via crédito. No caso do consignado, em especial, o perfil está mais associado à manutenção das despesas cotidianas do que ao consumo de longo prazo.
Essa fragilidade no orçamento também aparece no percentual da renda comprometida com dívidas, que atingiu 30,5% em setembro — maior nível desde julho do ano passado.
O prazo médio das dívidas das famílias de Salvador está em 6,5 meses, com crescimento das operações entre 3 e 6 meses. Esse comportamento indica maior uso do crédito parcelado de curto prazo, o que sinaliza que o recurso tem sido utilizado como apoio para manter o consumo do dia a dia, e não para ampliar a cesta de compras ou adquirir bens de maior durabilidade.
Com o aumento do endividamento, a inadimplência também cresceu. Em setembro, 25% das famílias de Salvador tinham algum compromisso em atraso, o que equivale a 235,8 mil lares. O percentual é próximo ao registrado em agosto (24,5%) e em setembro do ano passado (24,6%).
O peso é maior entre as famílias com renda de até 10 salários mínimos, cuja taxa de inadimplência atingiu 27,3%. Já entre as de renda superior, houve queda, passando de 7,6% em agosto para 6,5% em setembro.
Além disso, o tempo médio de atraso subiu de 66 para 67,8 dias nos últimos dois meses, com aumento dos atrasos superiores a 90 dias — um sinal de alerta sobre a dificuldade de regularizar as dívidas.
Outro dado preocupante é o aumento do percentual de famílias que já afirmam não ter condições de pagar a dívida em atraso, de 10,8% para 11,3%, o que representa uma elevação de 101,5 mil para 106,1 mil famílias nessa situação mais delicada. Na comparação anual, são 20 mil lares a mais sem possibilidade de quitar seus compromissos vencidos.
A inflação elevada no início do ano, combinada com os juros altos, provocou um desarranjo gradual nas contas das famílias. Agora, mesmo com a inflação em patamar mais baixo — inclusive com deflação em alimentos —, as famílias retomam gradualmente o consumo, mas ainda carregam dívidas que precisarão ser resolvidas em algum momento. Nesse cenário, é fundamental que os inadimplentes busquem as instituições financeiras e o comércio para renegociar débitos o quanto antes, aliviando o orçamento.
O emprego, ainda em nível historicamente elevado, é o fator que pode permitir a recomposição da renda e o reequilíbrio das contas no médio prazo. Assim, apesar do aumento nos indicadores negativos, o cenário econômico apresenta melhora relativa, o que deve favorecer os resultados da PEIC no fim do ano.


