PEIC | JUNHO 2025
ENDIVIDAMENTO DAS FAMÍLIAS ATINGE 68,2% DAS FAMÍLIAS EM JUNHO, MAIOR NÍVEL DESDE MARÇO DE 2023, AVALIA FECOMÉRCIO BA.
Taxa de inadimplência tem leve queda no mês, porém o perfil em atraso piora.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio BA, mostra que, em junho, 68,2% das famílias de Salvador possuem algum tipo de dívida. Esse é o percentual mais elevado desde março de 2023, totalizando 642,7 mil famílias endividadas — quase 20 mil a mais do que há um ano.
Esse aumento foi puxado por ambas as faixas de renda analisadas pela pesquisa. No grupo com renda inferior a 10 salários-mínimos, o percentual de endividados subiu de 70% para 71% entre os meses de maio e junho. Já entre os que recebem acima desse patamar, a taxa passou de 36,5% para 38,8%. Apesar da tendência ser semelhante, a magnitude da variação é bastante distinta, o que se explica pela maior necessidade de crédito entre as famílias de menor renda.
O principal tipo de dívida continua sendo o cartão de crédito, presente em 90,9% dos casos — um patamar ainda elevado, embora em queda nos últimos meses. Essa redução pode estar relacionada ao aumento dos juros, ao maior risco de inadimplência e à restrição gradativa do acesso a essa modalidade.
Os carnês aparecem na segunda posição, com 6,2%, seguidos pelo crédito consignado, com 5,6%. Essas duas modalidades indicam que o mercado de trabalho aquecido ainda permite às famílias manterem o consumo, priorizando formas de crédito com taxas mais baixas, como o consignado. No entanto, este último também tem sido utilizado para custear despesas cotidianas, refletindo um orçamento doméstico pressionado.
O tempo médio de comprometimento com dívidas permaneceu estável no mês, em 6,3 meses.
No que diz respeito à inadimplência, houve uma ligeira queda, de 24,5% em maio para 24% em junho, praticamente o mesmo índice registrado no mesmo mês do ano passado (24,1%), o que corresponde a 226,3 mil famílias com contas em atraso.
Apesar dessa melhora pontual, os dados mais detalhados exigem cautela. O tempo médio de atraso nas dívidas aumentou de 63,3 dias para 64,2 dias, o maior nível desde outubro do ano passado. A Fecomércio BA tem observado uma migração dos atrasos mais recentes para períodos mais longos: por exemplo, o intervalo de 30 a 90 dias passou de 36,6 para 38,7%, enquanto o atraso de até 30 dias caiu de 21 para 18,9%. Ou seja, o perfil médio da família inadimplente está se deteriorando.
Um dado que oferece algum alívio é o percentual de famílias que afirmam não ter condições de quitar suas dívidas em atraso, que caiu de 9,4% em maio para 9,1% em junho, ficando abaixo dos 10,6% registrados no mesmo período do ano passado.
A parcela da renda comprometida com dívidas permaneceu estável em 29,5% no mês.
A alta no endividamento ajuda a explicar, em parte, a redução da inadimplência, já que muitas famílias estão contraindo novos créditos para quitar dívidas antigas. No entanto, caso o cenário econômico se deteriore, é possível que o percentual de famílias com contas em atraso volte a crescer. Além disso, a substituição de dívidas por outras compromete o consumo, o que pode impactar negativamente as vendas no comércio. Assim, embora pareça que tenha havido uma melhora no dado de junho, o alerta deve permanecer ligado nos próximos meses.