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Tradição que se renova – Isabela Suarez

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15 de outubro de 2025

Segunda mulher a comandar a Associação Comercial da Bahia (ACB) em dois séculos, Isabela Suarez conta quais legados quer deixar para a instituição

Por Marcos Maia

Fortalecimento institucional, infraestrutura e estratégia comercial e financeira. Esses serão os eixos estratégicos da gestão de Isabela Suarez como presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB). “Isso significa, na prática, consolidar a representatividade da ACB, modernizar os processos internos, ampliar a base de associados, diversificar receitas e garantir sustentabilidade financeira”, explica. Segunda mulher a presidir a instituição em 200 anos, ela também deseja contribuir para ampliar a presença feminina em espaços de decisão em todo o ecossistema empresarial. Confira a entrevista abaixo:

A senhora é a segunda mulher a ocupar a presidência da ACB em 200 anos. Como você planeja usar seu posto, não só para inspirar outras mulheres, mas ajudar a pavimentar o caminho para que outras mais assumam posições de liderança não só na associação, mas em todo o ecossistema empresarial baiano?

Assumir a presidência da ACB como a segunda mulher em mais de dois séculos é, sem dúvida, simbólico, mas não quero que se limite a isso. Minha missão é trabalhar para que a presença feminina em espaços de decisão deixe de ser exceção e passe a ser natural. Quero que outras mulheres percebam que existe lugar para elas, não apenas nesta Casa, mas em todo o ecossistema empresarial. O exemplo inspira, mas é a prática que transforma. Por isso, tenho me dedicado a abrir caminhos, fortalecer redes de apoio e criar oportunidades reais para que cada vez mais mulheres possam ocupar posições de liderança.

Durante a posse, a senhora fez uma fala repleta de homenagens a mulheres da sua família, à postura empreendedora delas como no trecho: “Sou neta de empresários, filha de empresários. Tenho espírito de empresária desde que me entendo por gente”. Como a senhora concilia essa tradição familiar com a necessidade de modernizar e atrair novos perfis de empreendedores para a ACB?

Trago comigo o legado da minha família, que sempre acreditou no trabalho e no empreendedorismo. Mas tradição, para mim, não é prisão, é base. E vejo a ACB da mesma forma: uma instituição com mais de 200 anos de história, que precisa honrar esse passado, mas também olhar para frente. O meu papel é justamente fazer essa ponte, aproximando setores tradicionais dos novos perfis de empreendedores, da economia criativa ao agronegócio. É nesse diálogo entre memória e inovação que a ACB se mantém viva, atual e aberta para novas vozes.

Quais aspectos da gestão do ex-presidente Paulo Cavalcanti a senhora dará continuidade, e quais serão as principais inovações que sua gestão trará?

A gestão do presidente Paulo Cavalcanti foi marcada pelo diálogo, valor que faço questão de preservar. Com ele aprendi a força da colaboração e da mobilização em rede. Mas cada gestão traz sua identidade, e a nossa está organizada em três eixos estratégicos muito claros: fortalecimento institucional, infraestrutura e estratégia comercial e financeira. Isso significa, na prática, consolidar a representatividade da ACB, modernizar os processos internos, ampliar a base de associados, diversificar receitas e garantir sustentabilidade financeira. Também estamos empenhados em viabilizar a revitalização do Palácio, um patrimônio histórico e, ao mesmo tempo, um espaço de inovação e futuro para o empresariado baiano.

O que a Sra. pensa sobre eventuais articulações da ACB com entidades como o Sistema Comércio BA, FIEB e FAEB, para citar alguns exemplos, durante seu mandato? Como a sra. pretende aprofundar a articulação prática para alinhar pautas e criar ações conjuntas que beneficiem o empresariado baiano?

Acredito que nenhuma entidade empresarial, sozinha, consegue enfrentar os desafios da Bahia. Por isso, considero fundamental a articulação prática da ACB com Fecomércio, FIEB, FAEB, Sebrae e tantas outras instituições. Precisamos construir agendas conjuntas, somar forças e defender causas comuns. Quando falamos em uníssono, nossa voz ganha mais alcance, nossa representatividade se fortalece e nossa capacidade de gerar resultados concretos para o empresariado se multiplica.

Diante do atual cenário econômico, enquanto presidente da ACB, qual pauta prioritária a sra. levará às mesas de debate com o poder público?

A segurança jurídica. O empresário precisa de previsibilidade para investir, contratar e expandir seus negócios. Hoje, convivemos com um ambiente de instabilidade regulatória e excesso de normas que mudam constantemente, gerando incertezas e insegurança, inviabilizando a atividade produtiva. A ACB estará atenta e atuante para que as regras do jogo sejam claras, estáveis e aplicadas de forma justa. A segurança jurídica é condição essencial para garantir investimentos de longo prazo, estimular a competitividade e assegurar a geração de empregos.

Em seu discurso de posse, a sra. enfatizou que a ACB é a “casa mãe” de todos os empresários, do agro à indústria, às MPEs. Qual será a sua estratégia para fazer com que empresários desses outros setores se sintam representados?

Quando digo que a ACB é a “casa mãe” dos empresários, falo de um espaço que precisa ser útil e representativo para todos os setores. Estamos ativando as câmaras setoriais, ampliando os espaços de escuta e alinhando pautas específicas. Seja do agro, da indústria, do comércio ou dos serviços, cada empresário precisa sentir que aqui sua voz encontra eco. E os resultados já começam a aparecer: recebemos recentemente associados de segmentos que antes não faziam parte do nosso quadro. Hoje, por exemplo, contamos com duas gigantes da mineração, um setor estratégico para a Bahia e que agora também encontra na ACB um espaço de representação.

Mais especialmente sobre os MPEs, considerando que eles são a espinha dorsal da economia brasileira, qual será o plano específico da ACB para atrair, reter e defender os interesses deles?

As micro e pequenas empresas representam cerca de 99% dos negócios nacionais e, por isso, precisam receber uma atenção especial. A partir da Câmara de Micro e Pequenas Empresas, vamos intensificar ações de capacitação em gestão e inovação, além de oferecer orientação prática, inclusive jurídica, para apoiar esses empreendedores nos desafios do dia a dia. Eles também terão a possibilidade de contar com a ACB para desenvolver seu plano de negócio, por meio de parcerias com órgãos da administração. Meu objetivo é que cada micro e pequeno empresário veja a ACB não apenas como uma instituição de tradição, mas como uma parceira efetiva.

A reforma tributária, que começa a valer em 2026, representa uma mudança profunda para as empresas e traz impactos diferentes para cada setor e região. Quais são as expectativas da ACB para essas mudanças ao médio e longo prazo, e a sra. acredita que os negócios baianos estão preparados para as mudanças que se iniciam no próximo ano?

A reforma tributária é uma mudança estrutural que exige preparação. A expectativa é que simplifique o sistema, mas precisamos estar atentos para que não amplie desigualdades regionais. A ACB estará atuante, traduzindo as mudanças, orientando os empresários e defendendo que a Bahia não seja prejudicada, especialmente por meio da nossa Câmara Jurídica. O nosso objetivo é transformar a insegurança em informação clara e útil.

À frente da Fundação Baía Viva, a sra. defendeu que sustentabilidade é um tripé: ambiental, econômico e social. Como a sra. pretende inserir essa visão integrada nas pautas principais da ACB agora que chegou à presidência? A senhora acredita que o empresariado como um todo está mais consciente de que pautas ambientais e maximização de lucro não são temas antagônicos?

Sempre defendi que sustentabilidade deve ser compreendida como um tripé que integra dimensões ambiental, econômica e social. Na Fundação Baía Viva, vimos na prática que não há preservação ambiental sem geração de emprego e renda, e que desenvolvimento econômico só se sustenta quando também promove dignidade social. Essa mesma visão já vinha sendo trabalhada dentro da ACB, quando tive a oportunidade de contribuir na Vice-Presidência de Sustentabilidade na gestão passada. Agora, como presidente, vamos aprofundar esse trabalho, junto com a Câmara de Sustentabilidade e Meio Ambiente, colocando a pauta de forma transversal em todas as áreas da Casa. O empresariado já entende cada vez mais que responsabilidade ambiental e resultado econômico não são opostos, pelo contrário, caminham juntos. Empresas que inovam, respeitam o meio ambiente e investem em impacto social são mais competitivas, mais respeitadas e têm maior longevidade.

Ao final do seu biênio (2025/2027), como a sra. gostaria de ser lembrada? Qual marca pretende deixar na história da ACB?

Ao final do meu biênio, quero ser lembrada pelo reestabelecimento da voz do empresariado. A ACB precisa estar no centro das decisões que impactam a Bahia, e minha marca será a de uma gestão que ampliou a representatividade, trouxe novos setores para dentro da Casa e fortaleceu a capacidade de ação do nosso empresariado.