VAREJO BAIANO | COMÉRCIO
VAREJO BAIANO PERDE FÔLEGO E RETRAI 4,4% EM MARÇO, AVALIA FECOMÉRCIO BA
Apesar do efeito calendário, desempenho do bimestre, fevereiro e março, é de quase estabilidade.
O comércio varejista baiano faturou, em março, R$ 18 bilhões, o que representa uma retração de 4,4% em relação a igual período do ano passado, de acordo com cálculos da Fecomércio BA, com base nas informações do IBGE. Essa foi a primeira queda anual em quase dois anos. No acumulado do trimestre, o saldo ainda é positivo em 2,4%, somando um total de vendas de R$ 54,9 bilhões, o maior nível para o período desde 2016.
A Fecomércio BA alertou sobre a possível queda diante do efeito calendário, menos dias úteis em março no comparativo anual devido o carnaval neste ano ter caído no início deste terceiro mês. Porém, para ter uma dimensão mais precisa sobre o ritmo do desempenho do setor, anulando o efeito calendário, é mais adequado fazer a média do bimestre, fevereiro e março. Nesse cenário, o comércio do estado tem uma variação muito tímida, próxima a estabilidade, de 0,3%.
De fato, com esse dado, há uma indicação cada vez mais evidente da perda de fôlego nas vendas em decorrência da perda gradativa do poder de compra das famílias. Embora a taxa de desemprego esteja no menor patamar em mais de 10 anos e a renda real tenha crescido ao longo do ano passado, a inflação alta e persistente, além do aumento da taxa de juros, trouxe uma dificuldade na manutenção do consumo das famílias.
Tanto é que o setor que gerou o maior impacto negativo no mês foi o de supermercados, com retração de 7,5%. Mesmo numa média bimestral, o resultado é negativo em -2,1%. E foi exatamente esse setor que tem mais sofrido com a alta de preços. Segundo o IBGE, preços médios de alimentos e bebidas sobem 6,24% no acumulado em 12 meses, enquanto a variação média da região metropolitana de Salvador avanço 5,13%.
Outro destaque negativo, em termos de variação, é do segmento de eletrodomésticos e eletrônicos, com recuo anual de quase 10% (-9,8%), e -3,8% no bimestre. Além desse, houve queda também em lojas de móveis e decoração (-9,1%) e materiais de construção (-6,2%). Essas variações trazem um significado também de perda de tração nos setores que têm uma necessidade maior de crédito e, com o aumento dos juros, as concessões ficam mais caras.
As lojas de vestuário, tecidos e calçados tiveram um recuo anual de 5%, e o grupo outras atividades, que envolve vendas de combustíveis para veículos, artigos esportivos, joalherias, entre outros, retraiu 4,1%.
Por outro lado, duas atividades ainda ficaram no positivo, farmácias e perfumarias com alta de 2,5% e vendas de veículos, motos e peças, com variação de 2,4%. Para o primeiro, o faturamento foi de R$ 1,4 bilhão, o maior já registrado na série para o mês. E o segundo, mesmo não sendo recorde, já mostra uma clara desaceleração, desde outubro passado crescendo dois dígitos e, agora, alta relativamente pequena nas vendas diante de uma base fraca de comparação que foi março de 2024, quando houve queda de 7,1%. A tendência é que, a partir de abril, o setor comece a apresentar retrações.
O varejo baiano, de fato, perdeu o seu fôlego e já era esperado para algum momento até o meio do ano. Na média, ainda está minimamente positivo quando analisado o bimestre, sem o efeito calendário, mas logo mais deve haver uma reversão da curva para o campo negativo.
A taxa de juros do país num patamar de 14,75% ao ano é muito nociva para o comércio. A Fecomércio BA entende a necessidade de aumento da SELIC para conter um processo inflacionário. No entanto, é necessário, por outro lado, que o governo faça o seu dever de casa e controle os seus gastos, para haver uma quebra do cenário atual, de injeção de dinheiro por um lado (política fiscal) e retirada por outro (política monetária).
Infelizmente, com a alta de juros e inflação, quem perde é a economia, o varejo e as famílias que, aos poucos, vão perdendo as suas oportunidades de emprego.