FECOMÉRCIO-BA, SEFAZ-BA E SICM-BA APRESENTAM DADOS DO COMÉRCIO VAREJISTA DA BAHIA
A Fecomércio-BA apresentou em 14 de outubro, durante evento na Casa do Comércio, a primeira PCCV (Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista) da Bahia. Fruto do acordo de cooperação técnica entre a Federação, a Sefaz-BA (Secretaria Estadual da Fazenda) e a Sicm-BA (Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia), a PCCV analisa diferentes segmentos varejistas presentes em todo o Estado.
A mesa diretora do evento contou com as presenças do presidente do Sistema Fecomércio-BA, Carlos de Souza Andrade, do secretário da Indústria e Comércio, James Correia, e do superintendente da Fazenda do Estado, José Luiz Santos, representando o secretário Manoel Vitório. Mediada pelo economista baiano Armando Avena, a apresentação da PCCV da Bahia foi feita pelo economista Fábio Pina, da FFA Consultoria, empresa de São Paulo responsável pela compilação e análise dos dados. A PCCV baiana passará a ser divulgada mensalmente.
O presidente da Fecomércio–BA, Carlos de Souza Andrade, ressaltou a importância da iniciativa e da contribuição que a parceria entre a Federação e o Poder Executivo Estadual trará para o desenvolvimento do Estado. “Captamos com fidedignidade os dados do varejo no Estado. Temos certeza que fizemos um excelente trabalho num tempo recorde de quatro meses” declarou Andrade.
CENÁRIO GERAL – PCCV DA BAHIA
O primeiro semestre de 2014 terminou em desaceleração para o faturamento do varejo da Bahia. Em seis meses, o crescimento foi de apenas 0,6%, descontada a inflação. O resultado pode ser considerado como de estabilidade e confirma a tese de que eventuais recuperações (ainda que modestas como a de maio) não estão se confirmando ao longo dos meses. Especificamente em junho houve queda de 1,6% no faturamento real, quando o faturamento total do varejo baiano ficou ao redor de R$ 4,8 bilhões. Esse é um resultado que merece atenção e acende a luz amarela entre os analistas. Os números são da primeira PCCV (Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista) da Bahia, que é resultado da parceria entre a Fecomércio-BA, a Sefaz-BA e a SICM-BA. A análise é feita pela FFA Consultoria, de São Paulo, que também assina os estudos e pesquisas da Fecomércio-SP e CNC.
CENÁRIO PÓS-COPA
A Copa do Mundo teve o efeito contrário do esperado, segundo a análise da PCCV. Os setores comércio e indústria apontaram retração em julho no comparativo anual. O ambiente já era desfavorável, com aumento dos preços e aumento dos juros. Adicionam-se a isso os feriados e liberação de funcionários mais cedo para assistirem aos jogos. O desempenho do comércio é bastante relacionado às compras por impulso e, uma vez que as pessoas retornaram mais cedo para casa, houve impacto negativo no varejo.
Em julho de 2014, comparativamente a julho do ano passado, o varejo teve queda de 12,5% do faturamento real (dado nominal descontado a inflação). Com esse resultado pontual de dois meses negativos, o ano acumula, agora, queda de 1,3% de faturamento real no estado.
ANÁLISE DOS SETORES
Em termos setoriais, no mês de junho, foram as vendas de Veículos (-15,7% para um setor que representa algo entre 10% e 15% do varejo a depender do mês, com faturamento em junho de quase meio bilhão de reais), de Eletrodomésticos e Eletrônicos (-5,3%) e dos Supermercados (-2%), que puxaram o resultado para baixo. Apenas Lojas de Departamentos tiveram desempenho positivo relevante neste mês: 20% de crescimento ante o mesmo mês de 2013.
O bom desempenho para Lojas de Departamento pode ser explicado pelo fato de que estas cresceram sob uma base muito fraca. No acumulado em seis meses, o resultado é totalmente diferente para o setor que acumula perdas reais de faturamento de 14,9%. No outro lado da cerca está o crescimento do faturamento de Eletrodomésticos e Eletrônicos que tem sido mais constante (no ano cresceu 17,4% acumulado no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado, apesar da queda recente de 5,3% em junho).
No caso de Lojas de Eletrodomésticos e Eletrônicos e Lojas de Departamentos, o desempenho acumulado no ano tão díspar se explica, em grande medida, pela mudança de razão social e de atividade de uma das maiores redes do país que deixou de ser inscrita como Departamentos e passou a se classificar como Eletrodomésticos. Exatamente por isso, com o passar dos meses esse desempenho mensal deve convergir, quando o efeito da base estiver totalmente diluído. Isso é algo que já vem ocorrendo e, justamente por isso, os segmentos têm tido resultados invertidos no mês e no ano.
Outro segmento importante e que também já está andando no fio da navalha é o de Supermercados. O segmento ainda puxa o desempenho acumulado para cima, pois cresceu no primeiro semestre 2,6% em termos reais, que é um patamar muito acima da média do crescimento geral. Porém, o segmento começa a dar sinais de esgotamento também. Normalmente, em períodos recessivos ou de retração os setores de gêneros alimentícios e de higiene e limpeza tendem a ser os últimos a se ressentirem dos efeitos da crise, mas não são totalmente imunes. O que preocupa é que os supermercados representam algo ao redor de 30% das vendas do varejo, e seu desempenho é crucial para o conjunto desse setor tão importante da economia.
REGIONAL
No mês de junho, foi a RM de Salvador, com estabilidade no faturamento (variação nula em termos reais), que não deixou com que o varejo tivesse tido um resultado ainda pior. Na média houve queda de 1,6% do faturamento real total do estado, atingindo a cifra de R$ 4,8 bilhões assim divididos em junho:
R$ 2,3 bilhões na RM Salvador (variação 0% ante junho de 2013)
R$ 1,3 bilhão Região Norte do estado (variação -3,8% ante junho de 2013)
R$ 1,2 bilhão Região Sul do estado (variação de -2% ante junho do ano passado)
No acumulado do primeiro semestre o quadro foi diferente, com a RM de Salvador sendo a responsável por puxar o desempenho para baixo:
Faturamento Real do estado: 0,6% de crescimento;
Faturamento Real da RM de Salvador: -1,9%;
Faturamento Real da Região Norte: 3,7% de crescimento;
Faturamento Real da Região Sul: 2,5% de crescimento.
Esse desempenho de Salvador, melhor em junho, além de se manter muito modesto ─crescimento 0 não pode ser de fato comemorado─, não pode ser considerado uma tendência de recuperação, uma vez que não estão evidentes ainda as condições para uma reversão do quadro de consumo, especificamente de varejo. O melhor é aguardar o desempenho do início do segundo semestre para começar a projetar o final do ano, mas as perspectivas não são muito melhores do que o cenário visto na primeira metade do ano.
TENDÊNCIA NACIONAL
Esse desempenho bastante fraco do varejo não é um fenômeno exclusivo da Bahia. O país passa por uma evidente desaceleração de consumo. Em regiões como o Norte e Nordeste, o crescimento do consumo e o surgimento de uma nova classe média emergente, foram fenômenos bastante evidentes há alguns anos. Justamente por isso é que se deve prestar muita atenção aos resultados do varejo, pois a perda de conforto e a redução das perspectivas de consumo podem ser especialmente danosas ao “humor” do consumidor médio.
O que explica essa desaceleração, que por sua vez acaba por explicar a queda generalizada dos indicadores de confiança do consumidor e dos empresários, é a inversão da lógica econômica que vinha se impondo. O modelo de crescimento do país se baseou, nos últimos anos, em consumo. Exatamente por isso o governo adotou uma série de medidas para manter o ritmo de crescimento do consumo, mesmo em momento de crise, como em 2008/2009. Essa estratégia teve (e ainda tem de certa maneira) sucesso em manter o nível de emprego, apesar do desempenho médio ruim da economia. Não obstante, o setor produtivo industrial do país não acompanhou integralmente esse desempenho específico do consumo, que se fez notar em Serviços, e Varejo nas grandes cidades.
A última barreira que sustentava esse modelo era o crédito, e, em 2014, pela primeira vez em anos o volume real de crédito concedido para o consumo das pessoas físicas está caindo. Ou seja, o desempenho do varejo brasileiro ─e, por consequência, do baiano também─ está amplamente explicado.
NOTA METODOLÓGICA
A nova PCCV utiliza os dados sobre valores mensais de receitas de vendas, informados pelas empresas varejistas para o Governo da Bahia por meio de um convênio de cooperação técnica firmado entre a Sefaz-BA (Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia), a SICM-BA (Secretaria da Indústria Comércio e Mineração do Estado da Bahia) e a Fecomércio-BA (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia).
Essas informações, segmentadas em suas regiões Tributárias, que englobam todos os municípios baianos e nove setores, abrangem todas as atividades varejistas constantes do código CNAE 2.0. Composição do Grupo “Outras atividades”: combustíveis para veículos automotores; lubrificantes; livros, jornais, revista e papelaria; artigos recreativos e esportivos; joias e relógios; gás liquefeito de petróleo (GLP); artigos usados e outros produtos novos não especificados.
Os dados brutos são tratados tecnicamente de forma a se apurar o valor real das vendas em cada atividade e o seu volume total em cada região. Após a consolidação dessas informações, são obtidos os resultados de desempenho de todo o Estado. Ao abranger o estado da Bahia, a PCCV passa a refletir com maior precisão a grande representatividade do interior (Norte e Sul) e da Capital e RM de Salvador em termos de PIB, de comércio e de consumo. O Estado, excetuando-se a capital, responde, em seu conjunto, como o segundo maior mercado produtor e consumidor do País. A série tem seu início oficial com as informações relativas ao mês de janeiro de 2013.