Mercado de trabalho aquecido ajuda a segurar a inadimplência em Salvador, diante do cenário de inflação alta, avalia a Fecomércio BA

Apesar do aumento dos juros e da inflação, os atrasos permanecem semelhantes aos registrados no ano passado.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada mensalmente pela Fecomércio BA, aponta um recuo na inadimplência em fevereiro, passando de 22,9% em janeiro para 22,6% de famílias com contas em atraso em Salvador. Esse percentual é igual ao registrado no mesmo período do ano passado. Atualmente, há 213 mil famílias inadimplentes na capital.
É interessante observar que, há um ano, a taxa básica de juros estava mais baixa, em 11,25%, contra os atuais 13,25% ao ano. A inflação acumulada na RM Salvador, em 12 meses, era de 3,49%, abaixo dos 4,93% registrados no início deste ano. Sem falar que o grupo de alimentos e bebidas, que apresentava praticamente estabilidade, agora sobe pouco mais de 6%.
Embora algumas variáveis sensíveis ao poder de compra do consumidor tenham se deteriorado, a taxa de inadimplência não apresentou grandes variações. Mesmo entre as faixas de renda mais baixa, de até 10 salários-mínimos — que são mais impactadas pelo aumento nos preços dos alimentos — os índices de atraso permaneceram praticamente inalterados: 24,7% no ano passado e 24,9% no dado mais recente.
Para a Fecomércio BA, o que tem mantido a inadimplência numa certa estabilidade é o fortalecimento do emprego, com a menor taxa de desemprego já registrada na região, segundo o IBGE. “O volume recorde de dinheiro disponível tem permitido o pagamento em dia das contas e uma proteção mais segura em relação aos gastos com itens essenciais de alimentação. Porém, evidentemente, há uma alocação de recursos que poderiam estar programados para outras áreas, como lazer, compra de bens não essenciais, etc”, destaca o presidente do Sistema Comércio BA, Kelsor Fernandes.
Sobre a qualidade desse atraso, houve um certo equilíbrio ao longo dos últimos meses. O tempo médio de atraso está em 62,3 dias, pouco acima dos 61,2 dias de janeiro, mas abaixo do patamar próximo dos 67 dias que se registrava no final de 2024. Houve uma redução do percentual de inadimplentes com prazos superiores a 90 dias e, ao mesmo tempo, um aumento no período entre 30 e 90 dias. Ou seja, nada preocupante para o curto prazo.
“O endividamento seguiu numa tendência similar na avaliação mensal, passando de 65,7% em janeiro para os atuais 65,3%. No entanto, permanece num nível superior aos 63,3% de janeiro do ano passado. São 614,5 mil famílias em Salvador que possuem algum tipo de dívida, uma adição anual de pouco mais de 20 mil famílias com compromissos a serem pagos”, esclarece o consultor econômico da Fecomércio BA, Guilherme Dietze.
O cartão de crédito, como sempre, lidera a lista entre os endividados, com 92,1%, seguido dos carnês, com 5,7%. Chama a atenção o aumento para 5,5% no uso do cheque especial, uma modalidade muito danosa para o orçamento doméstico, pois a taxa de juros é muito elevada. É importante esperar os próximos meses para confirmar a tendência. Caso persista, pode ser um caminho negativo para a inadimplência.
Outra informação da PEIC que indica um cenário ainda benéfico é a relação renda versus dívida, que ficou em 29,9% em fevereiro, o mesmo percentual de janeiro e abaixo dos 31,4% do mesmo período do ano passado. Assim, mesmo com os desafios mencionados, como inflação e juros, não há uma busca imediata por crédito para complementar a renda, o que seria um quadro de atenção.
Portanto, enquanto o emprego continuar mostrando vigor, a tendência é que a inadimplência não tenha uma mudança drástica em sua trajetória no curto prazo, o que é importante para a economia local, mantendo o consumo nos principais setores: comércio e serviços.