SEMINÁRIO DO MUSEU DE GASTRONOMIA BAIANA CELEBRA O FEIJÃO
Dez entre dez brasileiros preferem feijão’. Com esse sucesso dos anos 70 na voz da banda As Frenéticas teve início o IX Seminário Do Museu da Gastronomia Baiana (MGBA) do Senac, no dia 25 de agosto, no Senac Pelourinho, que teve o grão mais popular do Brasil como tema. Chefs de cozinha, nutricionistas, estudantes e interessados em gastronomia e cultura participaram do seminário, que já é uma tradição do calendário anual da instituição.
Na abertura, o curador do Seminário, o antropólogo Raul Lody, destacou a importância do evento: “Eu considero o Seminário um dos raros eventos de reflexão sobre comida, cultura, processos produtivos, história, antropologia, matrizes étnicas, ou seja todos os ingredientes que fazem esse caldeirão de sentimentos do que é a comida e do que ela representa para o homem e para a vida. A comida representa uma relação simbólica, histórica e afetiva, e o feijão é extremamente afetivo para nossas memórias familiares, para os brasileiros e para a Bahia”.
As palestras envolveram diversos aspectos do grão tão presente nas mesas do brasileiro, como a controvérsia da sua origem, aspectos nutricionais, o feijão na gastronomia contemporânea, variedades de espécies e as questões culturais e religiosas. O sociólogo Ricardo Aragão citou que o alimento é bastante usado nas oferendas para os orixás. “Nas religiões de matriz africana o feijão é uma presença marcante, seja no momento sagrado ou no lazer, ligado à fertilidade da terra e da mulher, e ao ato de dar, de acolher”.
No momento degustativo, o público provou quitutes tradicionais como o caldo e o bolinho e também inovações como sopa fria de feijão azuki com morango e chantilly de pimenta preta, mousse de feijão branco com maracujá, biscoito de feijão azuki e os sucos de feijão de Angola e de Moçambique.
JANTAR NO MUSEU – Encerrando com chave de ouro o evento, o Jantar no Museu – O Feijão na Mesa Contemporânea, no dia 26, foi uma experiência gastronômica singular. Os chefs que assinaram os pratos (Kátia Najara, Alicio Charoth, Elmo Alves e Fabricio Lemos) ousaram em suas criações, surpreendendo o público. Na entrada Bombons de Feijão Verde, Kátia Najara propôs uma ‘desconstrução do feijão’. “Fiz uma brincadeira misturando o grão com outros elementos bem distintos, como o jamon serrano, a páprica e o xerem de madacâmia”, explicou.
Já o prato principal, Lombo Confit em textura de feijões, foi a criação de Elmo Alves e equipe Senac. “O nosso prato foi feito a 20 mãos, unindo todos os instrutores da casa”, disse Elmo, que conquistou paladares ao combinar carne de porco, musseline de feijão preto e crispy de parmesão com azuke. Completaram a odisseia gastronômica, a entrada Salada Morna de Favas, por Alicio Charoth, e a sobremesa, Brownie de Feijão Preto, criação do chef Fabricio Lemos. Cada prato foi harmonizado com uma bebida específica como o Frisante de Cupuaçu, mistura de espumante com sorvete de cupuaçu, e o La Pelô, drinque elaborado pelo Senac que combina o Limoncello, tradicional bebida italiana, com cerveja suave.
Raul Lody avisou que os preparativos do X Seminário, em 2016, também aniversário de 10 anos do MGBA, já foram iniciados. “O tema escolhido é Comidas do Mar que também terá direito a um livro comemorativo”, antecipou o antropólogo.